sábado, 21 de março de 2015

POMADA VOVÔ PEDRO - PARTE 1/2 - GFE - JOÃO RAMALHO


A história da Pomada Vovô Pedro


...“Decorria o ano de 1973 e a Colônia Santa Isabel vivia uma noite histórica na simplicidade de seus habitantes. Para mim, o espetáculo marcaria para todo o sempre a existência, porque pela primeira vez entrara em contato com hansenianos.

O Centro Espírita Campos Vergal era na época qual uma capela, destas pequenas igrejas características de pequenas cidades no interior do Brasil, com sua torre, sua cruz no alto, seu sino de bronze que tocou suave e acusticamente, chamando os escolhidos para a noite de graças espirituais onde surgiria por misericórdia, a benção divina em forma da Pomada Vovô Pedro, carreando o amor de quantos operam nessa tarefa em nome de Nosso Senhor.
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De muletas, faltando-lhe parte do nariz e orelhas, pés enrolados em panos, sorriu-nos, a um tempo desdentado e iluminado, ora desencarnado – João Pipoca, dirigente do Centro Espírita, estendendo-nos um “toco” de mão num cumprimento meigo de irmão.
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O público chegou e apinhou-se nos espaços, sentados, escorados, de todas as idades, mutilados uns, doídos apenas outros, todos porém marcados pela dor mais profunda de um ser – a hanseníase.

A reunião transcorreu em clima de serenidade e respirávamos, numa nesga de céu, com os companheiros exteriorizando sentimentos até diferentes dos seus, haja vista aquela assistência combalida e precária no que tange a saúde do corpo
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Abrem-se em alas, enfileirados, com suas roupas e ferramentas de trabalho, os espíritos-escravos desencarnados na Fazenda Riachuelo e adentram a festa de luzes benfazejas os personagens do livro Além do Ódio: Miramês, mãe Dudu, Dr. Bastos, Cícero e muitos outros, além dos que já se encontravam no local, abrindo-se de novo o salão para a entrada singular, resplandecente e tranquila de Franz Anton Mesmer:

– Papel e lápis, meu filho. Vou lhe ditar a fórmula de uma pomada que deverá curar e aliviar.

E sob o impacto dos acontecimentos nos dois planos da vida, arranjou-se-lhe João Pipoca um tosco lápis trazido no bolso do paletó e João Nunes anotou em pedaço de papel que havia envolvidos os livros Além do Ódio, a fórmula abençoada do ungüento sagrado. Ao término da distribuição dos livros, sobrou um – havia 104 famílias representadas nas duas filas de encarnados, ao que João Pipoca exclamou:

– Este deve ser o meu! Eu também ganhei! Louvado seja Deus! Louvado seja Nosso Senhor Jesus Cristo! – e beijou o livro, levantando-o aos céus.

Após o ditado espiritual, inquiriu o nosso médium, sobre a autoria da fórmula, ao que a entidade se lhe respondeu docemente: Vovô Pedro, e atente meu filho para o preço: Deus lhe pague!

De posse da fórmula, já no outro dia, lê, relê, lê de novo, pensa, torna a pensar. Sai em busca das plantas, a pesquisar. E no passar dos dias, sentindo e ouvindo os espíritos atentamente encontra uma a uma as ervas indicadas, inserindo-as em garrafas, juntamente com as poções acertadas de álcool e água destilada, enterrando-as no quintal nos dias determinados pelo espírito, que lhe explicava a capacidade de decantação através dos movimentos da Terra, sob a influência da lua e a égide do Senhor.

Contados os dias, desenterra uma a uma as poções, nominando-as de maneira a segredar-lhes as condições.

E prepara em certa noite de claridades indizíveis numa panela de pressão, o unguento sagrado.

Sai à rua, e oferece a pomada aos doentes e experimenta. Todas as feridas, sem exceção, fecharam-se. Empolga-se João Nunes. Procura os hansenianos, fecham-se as chagas, diminui ou extingue a dor das feridas em febre. Vibra João Nunes de contentamento.

– É a oitava maravilha! Farei um teste final. Aquele mendigo da praça Sete, é uma ferida só em toda a perna.

E foi lá. Todo dia limpava, colocava pomada, enfaixava, deixando a pedido, sempre uma parte da chaga a descoberto.

Passaram-se os dias, a ferida fechando, os tecidos se refazendo, o tamanho reduzindo, a dor sumindo. No semblante do enfermo a alegria do alívio que sentia.
Agradecido, ele só falava em Deus e no Anjo que o assistia e ria qual uma criança, marejando os olhos de gratidão.
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João Nunes resolve aumentar a produção. Buscou e encontrou os companheiros para a vivência daquela situação.

Mais ou menos organizados, depois das providências do material necessário, um pouco ansiosos, sob a orientação firme do médium, iniciaram os trabalhos de diluição da vaselina e lanolina, separação de antibióticos, mistura dos extratos, etc.
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Tive a oportunidade de estar na Sociedade Espírita Maria Nunes numa dessas noites memoráveis em que o acaso nos conduz, e observei de perto aquela tarefa com cinco ou seis companheiros ao redor de uma grande bacia de alumínio, munidos de pequenas pás de sorvete, enchendo os potes vagarosamente, sem pressa e sem medo de errar...

Tio Nunes, como o chamávamos, a contar os casos dos fenômenos espirituais presenciados por ele ao percorrer seus caminhos nas viagens das campanhas do Livro Espírita Gratuito.
E nós, ora espantados, ora boquiabertos, ficávamos sem ritmo, no trabalho de enchimento dos potes.
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 Trecho extraído do livro: João Nunes Maia, Uma biografia – Editora Fonte Viva, página 79 a 84.

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